domingo, 15 de julho de 2012

REFLEXÃO CRÍTICA

CIÊNCIA, CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E PROJETO DE PESQUISA



A crítica está intimamente relacionada ao sujeito que a produz. Parte de uma estrutura individual complexa que envolve, entre outros fatores, o conhecimento acumulado, a ideologia, a visão da realidade, além de aspectos mais profundos ligados às idiossincrasias e à personalidade. Sendo assim, toda reflexão crítica possui um caráter muito pessoal, embora possa estar apoiada em uma estrutura comum a muitos outros indivíduos.

Assim, esta reflexão crítica acerca da Ciência e suas inter relações com a Ciência da Informação, não pretende, nem pode ter a pretensão de trazer considerações definitivas, determinadas e bem delimitadas. Muito antes pelo contrário, a natureza de tal exercício reflexivo é mais permeada por indefinições e imprecisões do que por certezas, considerando as peculiaridades dos próprios objetos sobre os quais se está dissertando.

Há controvérsias. Nesta afirmação encontro o que talvez possa melhor caracterizar Ciência e suas inter relações com a Ciência da Informação. A discussão e a divergência são características inseridas na idéia de ciência e contribuem, em grande medida, para seu crescimento e evolução. Sem discussão não há ciência, conforme afirma Tomanik. Essa controvérsia, além de ser parte da própria natureza do processo de construção da ciência, encontra-se refletida nas argumentações acerca de sua conceituação. Mais fácil definir o que não é ciência, do que tentar encontrar uma definição capaz de abranger todas as idéias já constituídas acerca do termo.

Se a natureza da ciência é controversa, pelo dinamismo que se faz necessário ao acompanhamento da realidade mutante, o que se pode dizer de um campo de conhecimento que agregue à ciência a idéia de informação? O conceito de informação não fica atrás do de ciência, nos quesitos complexidade e diversificação, conforme já demonstraram Capurro e Hjorland.   Em franco processo de busca por amadurecimento e consolidação, a Ciência da Informação é constantemente visitante de outras ciências, mas ainda pouco visitada. Na interdisciplinaridade evidenciada por Saracevic, mais toma emprestado que empresta a essas outras ciências, numa relação caracteristicamente desigual, conforme aponta Pinheiro. Num emaranhado de diferentes tentativas de conceituação e de busca por definição, a Ciência da Informação também trilha o caminho da incerteza e da falta de consenso. Interessante observar que ao mesmo tempo em que para os mais clássicos e positivistas essa constatação pode significar uma certa fraqueza do campo, para outros, pode reafirmar ainda mais o caráter científico da ciência da informação.

Quando se trata de investigar aspectos relacionados à chamada Competência em Informação dentro do campo da Ciência da Informação, o que é o caso de minha proposta de pesquisa, percebe-se de forma marcante tanto a interdisciplinaridade quanto a falta de unanimidade. São múltiplas as definições do termo competência em diferentes áreas de conhecimento como a Educação e a Administração, por exemplo. Ainda se discute muito quais são as bases para a emergência da lógica da competência na formação educacional, no ambiente de trabalho e também, mais especificamente, na relação dos indivíduos com a informação.

Para o cientista, muito mais fácil seria tomar posse de teorias generalizantes, estáticas e navegar por um oceano seguro e previsível. Mas sinto informar: após estas reflexões vejo que nos resta o desafio de compreender a mudança e a necessidade de dinamismo e adaptação como algo natural e inerente à essência do processo científico.

REFERÊNCIAS

CAPURRO, R.; HjOrland, B. O conceito de informação. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 12, n. 1, p. 148-207, abr.2007.

PINHEIRO, L. V. R. Processo evolutivo e tendências contemporâneas da ciência da Informação. Informação & Sociedade, Joao Pessoa, v. 15, n. 1, p. 13-48, jun. 2005.

SARACEVIC, T. Interdisciplinary nature of information science. Ciência da Informação, Brasília, v. 24, n. 1, p.36-41, 1995.

TOMANIK, Eduardo Augusto. O olhar no espelho: "conversas" sobre a pesquisa em Ciências Sociais. 2ª ed. Maringá: Eduem, 2004.

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